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Dignidade cruel

Paulo trabalhava na prefeitura, tinha 43 anos, separado e namorava com Ivone, Silvia tinha 20 anos, era secretária de um conhecido advogado da cidade, naquela época namorava Ivan, 28 anos, recém-formado em odontologia, com planos de casamento em breve.
Era 1 de junho de 2000, na inauguração de uma Escola Municipal, quando Paulo e Silvia foram apresentados. No momento, com  seus respectivos pares, trocaram um rápido olhar, sem qualquer intenção.
A festa se estendia pela noite, motivada pelo inicio da articulações de um ano político. Ivan, preocupado com seu futuro, sempre dava um jeito de participar das conversas das rodas mais influentes, enquanto Ivone divertia-se com as amigas, num canto do salão maior.
Paulo, como sempre impaciente, andava para lá e para cá, sem muita paciência para as conversas sociais, quando deu de frente com Silvia, só, a espera do namorado. Em poucos minutos os dois já riam juntos e trocavam detalhes de suas vidas, sempre procurando coincidências no modo de pensar.
Por volta da meia noite, todos começam a se retirar, Paulo e Silvia se despedem e saem com seus respectivos parceiros.
No dia seguinte, Paulo, que sempre almoçava no mesmo restaurante, resolve mudar o menu e vai até onde Silvia comentou, que frequentava, por ser perto de seu trabalho.
Logo na  entrada os dois se encontram e Silvia, a queima roupa indaga:
-Mudou de restaurante para me ver?
-Sim responde Paulo, sem pensar em qualquer desculpa.
A partir de então os dois passam a se encontrar, todos os dias no mesmo lugar. Semanas depois, já marcam um jantar, embora os dois ainda conservem seus relacionamentos.
As conversas passaram a ser mais intimas, Silvia já confidenciava suas intimides, no que era correspondida. Paulo resolve deixar  Ivone e começa a pensar mais na amiga.
Em algumas ocasiões se encontram e beijos e caricias se tornam inevitáveis, mas Silvia reluta em se entregar totalmente, sempre com alguma desculpa, mas a principal, dizia ela, era a química
Dizia ainda que só poderia ir até aquele ponto, pelo menos enquanto ainda tivesse com Ivan, pois mais do que aquilo seria traição. Paulo aceita as desculpas e por 7 meses vivem nesse vai, num vai.
Na quinta-feira,  ficam sabendo que  Ivan iria viajar, Paulo vê suas chances aumentarem, combinam uma janta num restaurante da cidade vizinha e a noite seria livre para saírem e finalmente chegarem as vias de fato, claro que se a química, não resolvesse interferir.
Os dois saem, como sempre, pareciam um casal perfeito. Jantar maravilhoso, vinho de boa safra, caricias, beijos, afagos, mas quando tudo parecia se encaminhar, Silvia volta a falar da química, do medo de não dar certo e da traição carnal, como se os beijos, agarros  e afinidades intelectuais, já não fossem o suficiente, para configurar o corno.
Resignado Paulo relaxa e espera a nova oportunidade, porém no meio daquela semana, Silvia lhe confidencia, que em uma reunião no escritório, onde teria participado após ao horário comercial, acabou pegando carona com um advogado, amigo de seu chefe, que foram comer, pois ficaram até tarde trabalhando, acabaram exagerando na bebida e que ela acabou dormindo como cara.
Paulo virou as costas e foi para a sua casa, tudo o que ele pensava era no porque daquela traição, pois mesmo ela tendo namorado, ele sabia que os dois logo acabariam, e mais que isso, era só uma questão de oportunidade, e além do que ela sempre vinha com aquele papo de química e de traição, mas no caso advogado ela não havia pensado em nada.
Em casa bebeu e xingava em pensamentos, biscate, mentirosa, puta. Ela diz que me ama, mas não vai deitar por causa do outro, mas no dia que sai, com um cara, que nunca viu, se abre e entrega tudo...
No dia seguinte acordou com uma tremenda ressaca e sentenciou. Não quero mais.
Silvia no almoço estranhou a falta do amigo, que na verdade era mais que isso. Ligou varias vezes durante a semana. Em nenhuma foi atendida. Paulo mudou até seu numero de telefone.
Silvia resolve terminar de vez com Ivan e passa a se dedicar a reconquistar Paulo
Numa noite de quarta-feira consegue o numero de Paulo e liga para ele.
- Meu amor não desliga por favor, preciso muito falar com você, me escuta, eu quero me explicar, acho que , o que sentimos, é muito mais importante que uma simples deitada.
- Paulo, responde que já esqueceu e diz que está de saída.
- Onde você vai? Perguntou Silvia. E ele responde que sua TV quebrou e que vai assistir ao jogo do Santos, no motel.
Ela vê ai a oportunidade de reconquistá-lo e se convida para ir junto, ao que ele logo concorda.
Ao chegarem ao motel, Paulo liga a TV e pede uma dose de uísque, ela também pede um.
Paulo deita-se e começa a assistir a partida de futebol, enquanto bebe e acende um cigarro. Silvia vai ao banho e volta minutos depois, toda produzida, com roupas intimas de filme francês. Faz caras e bocas, todo o gestual da sacanagem profissional, mas Paulo impassível, assiste o jogo até o fim, nessas alturas Silvia já havia  pedido uns 5 uísques, passou o segundo tempo inteiro tentando chamar a atenção e falando o quanto ele era importante para ela, os quanto os dois combinavam, sobre os pensamentos iguais, o mesmo nível intelectual, os gostos, já imaginava até como seria um filho dos dois.
E num rompante de desespero, pergunta a Paulo se ele não concorda.
Paulo, tranquilo como monge tibetano, responde que concorda com tudo, que jamais encontrará alguém como ela e que para toda sua vida ela será seu grande amor e finaliza, na hora que acabar o jogo, nos conversamos.
Logo depois vem o apito final e Silvia se deita em seus braços tentando se encaixar.
Paulo pergunta o que ela esta fazendo.
Silvia responde, tentando ficar bem, você já concordou que fomos feitos um para outro e hoje seria sua, diz tentado lhe beijar, mas Paulo se afasta, olho no fundo de seus olhos e desfere a punhalada final: Você sempre foi o que eu mais quis, o que sempre procurei, você é o que eu mais quero,  jamais encontrarei outra pessoa como você, mas tudo acabou...Questão de química meu amor.

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